quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Saudades de uma Pedralinda
de um tempo que jaz em paz
a hora se arrasta em cinzas e
que falta tudo isso me faz.

Sudades da Pedralinda,
é tudo que eu sei cantar
Sou um jovem poeta no rio
Contemplando suas infindas águas
e vendo como é bobo um mar.

Saudades de uma Pedralinda
que no meu coração se fixou
fincou raiz, caule e fruto
sugando tudo que me presta
e no fim de nada, tudo restou

Saudade de um rio correntoso
e do ninho de carcará
de ruas, esquinas, salão
da fogueira, do milho e baião

Me lembro de um Pedralinda
que um dia se transformou
me lembro de um gosto amargo
que minha língua jamais provou

Me lembro da janela de um ônibus
e um olhar melancólico para trás
soluçando, sem querer dizer:
Adeus! Até nunca mais.

Pedralinda, hei de voltar.

J.A.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Nota sobre o tempo.

Normalmente minha memória é péssima, só tenho tenho facilidade em lembrar das mentiras que conto caso um dia seja preciso repetí-las, quase sempre é preciso. Quando penso no passado, um velho quadro com a moldura dourada já gasta e um fundo preto melancólico se desenha em uma parede suja com as quinas rachadas. Tal quadro se observado calmamente, troca a imagem escura e obsoleta por um desenho mais vivo, um homem alto e imponente segura desajeitadamente um loirinho, do lado uma mulher com os cabelos cacheados que parece ser a matriarca da família usa um belo e longo vestido bordado que se confunde entre o vermelho e o rosa, tem uma criança talvez pré-adolescente aos seus pés, dono um olhar fixo e carinhoso. Ele sabe que todo tempo deveria estar ali, e esteve. Da pra escutar a melódia da chuva lá fora, tão triste, mas é uma tristeza reconfortante, quase bela. A tristeza por vezes é reconfortante.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Devaneios de uma garrafa de vinho...

Vamos lá, abram as torneiras! Calma, eu ainda não estou doido, nem bêbado, relaxa...
Quando eu me levantar dessa mesa e gritar para todo mundo que encontrei a resposta definitiva, ai sim pode me internar e acusar-me de total insanidade mental. Do que eu estava falando? Ah sim, as torneiras...

O problema desse mundo, são esses amores não correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende?
Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal interpretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso: corações e cérebros não falam a mesma língua.
A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração. Deveria ser tudo questão de um clique, e pronto: aquele amigo que a gente só consegue enxergar como confidente assexuado se transformaria no príncipe encantado. Mas não, não neste rascunho porco de mundo em que vivemos. Quem sabe na versão 2.0.


Sim, eu sei, não precisa falar. Você falou que eu ia me estrepar com essa ou aquela menina, mas deixou de usar pedagogia comigo, pô. Sim, pode rir, vou fazer o quê? Ou você se esquece do quanto todo homem é crianção e imaturo, e de como a gente se torna repentinamente burro quando se interessa por alguém? Esses lances de sermões, do tipo "filho não coma o que caiu no chão", "cuidado com as más companhias", "não aceite balas nem arquivos atachados de estranhos", blá blá blá, não dão certo. Tem que quebrar a cara pra aprender, errar, cometer novos erros. Mas deixa pra lá. Fala sério, esse vinho não parece que fica melhor a cada gole? Ih, relaxa, tá tudo sob controle.
 
Você tá parecendo minha mãe, só falta pedir pra que eu arrume meu quarto. Meus livros estão todos empilhados, um dia te mostro a Torre de Pisa que fiz com meus Gorbatchev, Manuel Bandeira, história clássica. Uma lindeza. Ansiosa pra ver o meu quarto? Ih, você não sabe do que está falando. Aquilo é um buraco negro, tudo que entra some e vai parar em outra dimensão.
 
Mas olha só: talvez o amor não passe de um erro de programação. Um bug atravancando o perfeito funcionamento do sistema. Um vírus no código-fonte da Matrix. Uma maldição que surgiu com a intenção única de inspirar cornos a escreverem músicas sertanejas, e de fazer minhocas treparem fulminantemente no drive-in do meu cérebro, numa putaria incessante que me atormenta 25 horas por dia. Eu juro pra você: um dia vou espirrar e minhoquinhas sairão voando de minhas orelhas. Não ri não, eu tô falando uma verdade trágica! Esses bichos promíscuos estão me deixando mais pirado ainda, enchendo minha cabeça com a imagem onipresente de várias pessoas incapazez de retribuir todo o amor que eu poderia dar. Vou parecer alienado, e talvez eu seja mesmo, mas a verdade é essa: amores desperdiçados são a grande tragédia da humanidade. Se Franco, Pinochet, Suharto e todos esses babacas tivessem uma mulher legal, talvez não ficassem tanto tempo pensando em merdas totalitárias. Caralho, tô ficando mesmo bêbado. Ops, desculpe aí. Falo palavrões pra caralho!
 
Porque estou farto de ouvir as desventuras amorosas com Danilos, Gérsons, Alans, Rodrigos e todo um bando de putos batizados com esses nomes típicos de classe média metida a burguesa, uns mauricinhos prestáveis pra trepar, mas que roncariam estrepitosamente se fossem obrigados a ouvir um quinto das lamúrias e confidências que já aguentei. Isso é que dá virar confidente.


Observando essas cenas, pergunto-me: será que um dia chegarei a tal estado de torpor mental? Espero que não. É preciso estar sempre alerta para os riscos da paixão: olho para os dois lados antes de atravessar a rua, atento a movimentos de estranhas, essas coisas. Mas já deixei minha família de sobreaviso. Se um dia eu for pego pela armadilha do amor, quero que os aparelhos sejam desligados. Não desejo sofrimentos desnecessários.



Ainda bem que te tenho pra me agüentar. Ouvir meus desabafos é como pagar pecados em vida, quando você morrer vai direto pro céu. Onde mais eu acharia uma amiga como você, que presta atenção em tudo o que eu digo? Ou isso, ou você arqueia as sobrancelhas como ninguém, haha, Brincadeira. Às vezes me pergunto o que leva você a aturar minhas rabujices. Você deveria ser terapeuta. E não adianta me dizer que você só faz essas coisas por minha causa. Você é uma santa, a Madre Teresa dos chatos bêbados como eu. Um dia ainda ganho na Mega Sena e encontro uma mulher tão linda e inteligente como você. Um clique? Ué, não entendi. Burro? Sim, mas qual é a novidade? Não, não. Pode deixar, eu pego um táxi. Ok. Garçom, a conta.