domingo, 15 de julho de 2012

A grandeza do homem consiste em ser uma ponte e não uma meta; o que se pode amar no homem, é ser ele uma ascensão e um declínio.

Amo aos que não sabem viver senão com a condição de perecer, porque, perecendo, eles passam além.

Amo aos repletos de um grande desprezo, porque trazem em si o respeito supremo, e são flechas do desejo dirigidas para a outra margem.

Amo aos que não necessitam procurar além das estrelas uma razão para perecer e oferecer-se em sacrifício, mas que se imolam à terra, para que a terra pertença um dia ao Super-homem.

Amo ao que vive apenas para conhecer e quer conhecer para permitir que um dia viva o Super-homem. Essa é a sua maneira de querer a própria perda.

Amo ao que trabalha e inventa, a fim de erigir um dia a morada do Super-homem, e preparar para ele a terra, os animais e as plantas. Essa é a sua maneira de querer a própria perda.

Amo ao que ama a sua virtude, porque a virtude é vontade de perecer e flecha do desejo.

Amo ao que não reserva para si nem uma gota de seu espírito, mas que quer ser totalmente o espírito de sua virtude, porque assim, como Espírito, atravessa a ponte.

Amo ao que transforma sua virtude em inclinação e em destino; é assim que, por amor de sua virtude, quererá viver ainda, e não mais viver.

Amo ao que não quer ter demasiadas virtudes. Uma virtude é mais virtude do que duas, é um nó mais forte em que se aferra o destino.

Amo aquele cuja alma pródiga recusa qualquer gratidão, nem devolve o que quer que seja; porque dá sempre e nada reserva para si.

Amo ao que se envergonha, quando vê os dados caírem a seu favor, e pergunta a si mesmo então: "Sou um trapaceiro?", porque sua vontade é perecer.

Amo ao que lança ante suas obras palavras de ouro e cumpre sempre mais do que promete, porque sua vontade é perecer.

Amo ao que previamente justifica os homens vindouros, e redime os do passado, porque sua vontade é perecer com os do presente.

Amo ao que castiga a seu Deus, porque ama a seu Deus, porque morrerá da cólera de seu Deus.

Amo aquele cuja alma é profunda, até em sua ferida, e que pode morrer de qualquer acidente, porque é de boa vontade que passará a ponte.

Amo aquele cuja alma se desborda a ponto de esquecer a si mesmo e de todas cousas que traz consigo, porque assim todas as cousas causarão sua ruína.

Amo ao livre de coração e de espírito, porque assim sua cabeça serve de entranhas ao coração, e será o coração que o fará perecer.

Amo a todos os que são como essas gotas pesadas que caem, uma a uma, da sombria nuvem suspensa sobre os homens; anunciam que é próximo o relâmpago; e eles perecem por serem seus anunciadores.

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