quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um garoto jovem e bonito se exercitando na areia da praia, que já foi mais limpa tempos atrás, que já foi mais areia tempos atrás. O garoto também já foi mais jovem e mais bonito, certamente. Dois pescadores ajustando o barco na fila de barcos, um deles desenrola a rede enquanto parece contar uma piada, pelas risadas do amigo que ainda dá os ajustes finais no barco antes de entrarem no mar, às 5:32 da manhã. O céu coberto de nuvens pesadas faz cara de poucos amigos.

Pessoas caminham para um lado e para o outro, a maioria velhos. Todos velhos, exercitando a vida, correndo contra um tempo que já perderam, respirações ofegantes e esperançosas. Sempre estão procurando a fórmula perdida, viver para sempre, terem um dia a mais em que possam se levantar com dificuldade da cama, respirarem e fazerem suas coisinhas. A idade assusta, a morte assusta ainda mais. Não há muito o que fazer.

Os pescadores já entraram no mar, o jovem de cabelos pretos até o ombro tira a camisa e sempre que passa por mim dá um sorriso. Todos andando, correndo, só não descobri pra onde e seja pra onde for estarei correndo na direção contrária, mesmo aqui, com meu short rasgado, sentado na areia a escrever qualquer besteira que me venha na mente ou simplesmente nunca me sentindo cansado de admirar o nascer do sol, com seus raios largos e laranjas rompendo essas pesadas nuvens de poucos amigos que paira sobre esse povo correndo pra algum canto. Ninguém ainda parou pra ver isso?

Um homem com roupas justas faz uma série de exercícios esquisitos e a primeira vista dolorosos. Outro escuta nossas românticas notícias dos jornais por um rádio enquanto se exercita, às 5:40.

Vejo um casal caminhando, amigos conversando e penso que preciso conhecer pessoas novas. Penso em chamar o belo garoto para assistir aquele espetáculo no céu. Mas não há espaço para contemplação. Não há espaço para nada interessante. Precisamos comer, agir, andar. A maioria não aprecia o silêncio, falam demais, entendem demais sobre tudo. 

A pesca deve ter sido boa, ou a piada, um dos barqueiros volta rindo bastante.


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