quinta-feira, 6 de junho de 2013

Eu e meu nariz nunca nos demos muito bem. Tentamos até uma reconciliação. Aos 12 anos eu decidi que não ia usar mais remédios anti alérgicos, mas por grande ironia da vida, um belo dia na casa de um velho amigo, saí correndo da sala pro jardim e não percebi que a porta de vidro (sem faixa de sinalização nem maçaneta) estava fechada. Resultado: Dentes quebrados, mão engessada, nariz quebrado e porta intacta. Ok, desde esse dia eu acho (nunca fui ao médico) que tenho desvio de septo e não consigo respirar pelos dois buracos. Meu nariz, quando não tá entupido, tá escorrendo. E além disso, sempre passo os primeiros vinte minutos do dia espirrando. Com o bônus de ter um espirro extremamente escandaloso (acho que fico com raiva de ter que espirrar e solto um berro junto), é uma coisa linda de se ver.


Ai que o Neosoro entrou na minha vida. Mas não foi uma entradinha qualquer não, foi amor à primeira vista. Ele me mostrou um novo mundo até então desconhecido... Duas esguichadinhas e meu nariz simplesmente voltou ao que ele nunca foi, tipo mágica. Show de bola, incrível, de repente senti um vigor vitalício! Nada como respirar bem, dormir bem, algumas gotinhas e tudo ganha cores novamente.

Mas, sempre tive tendências viciosas a todas essas coisas que me proporcionam algum momento de prazer e com isso de respiração não se brinca... Tudo bem, eu posso ficar sem cigarro, sem bebida, sem maconha, mas o Neosoro me conquistou lindamente, fabricado para mim, feitos um pro outro. E aqui, você que já teve ou tem algum vício sabe mais ou menos como se dá o desenrolar da história. No início o efeito era de umas 12 horas, tranquilidade! Duas vezes por dia e eu conseguia respirar 24 horas tranquilamente. O que antes eram 4 gotas e 24 horas de satisfação nasal plena, se transformaram em mais de 6 gotas de duas em duas horas e foi piorando... Cheguei a usar um tubo de Neosoro em 2/3 dias e o impacto no bolso não precisa nem ser comentando, né? Pois é, a coisa começou a sair do controle completamente: Um tubo no banheiro (reserva técnica), um do lado da cama, um na sala do dia a dia e um tubinho móvel que sempre saia comigo pra onde quer que eu fosse...

Aos 17 fui morar em Fortaleza. Eu e ele. Pra adiantar um pouco a história e me manter fiel somente ao depoimento de um viciado em descongestionante nasal, conheci uma garota e, por incrível que pareça, também viciada em neosoro, o apelido dela era panela de pressão, do tanto que fungava. Eu não via muita lógica nesse apelido mas cai na onda também. Panelinha era mais viciada que eu, nossa! Muito mais... Ficávamos discutindo onde comprar mais barato o remédio. Um dia achei uma promoção de 3 por 2 e ficamos super felizes, afinal não é fácil para dois estudantes sustentarem um vicio relativamente caro, longe de casa... De repente estávamos comprando em lotes, caixas, pela internet, coisa de maluco... Uma noite, entre várias que passávamos em claro bebendo e escutando música, ela me declarou intimamente que o sonho dela era pular em uma piscina de neosoro... Bom, isso me abateu um pouco. "Peraí, porra. O que tá acontecendo?" - Pensei enquanto jogava uns 20 tubos vazios no lixo e abria outro... 

É isso, decidi deixar ela e o vício e fui embora de Fortaleza... Pensava em como largar dele, mas era como uma coisa impossível, sabe? Não tem como, sem ele não dá pra dormir, não dá pra viver! Preciso respirar, porra! Todo dia tem nego falando que vicia, causa enfarto, sangramento no nariz e o diabo... E eu, tonto, em vez de ignorar essa caretada, ficava me remoendo de culpa e buscando incentivo... Bom, não era burro ao ponto de procurar um médico que me ajudasse a largá-lo, um remédio não vai me livrar de outro, não queria seis por meia dúzia. Fui largando a base da persistência mesmo, força de vontade, esse papo de viciado....

Admito que ainda uso, principalmente quando estou resfriado, mas tento ser mais regular, usar menos, uma gotinha aqui outra ali, antes de dormir.... Ah, também não consegui me desfazer do tubo móvel...