domingo, 25 de setembro de 2016

    Aos domingos todas as tristezas do mundo se intensificam e não há playlist que dê um jeito nisso. Sabem todos aqueles que sofrem que a alegria é apenas uma sombra projetada pela dor, uma penumbra fina e sensível que realmente não dura muito tempo se exposta. Então, o que são as lembranças? O que são as lembranças de um domingo? Sol quente, vento constante,  ela deitada e meu colchão estendido no chão pois não cabemos juntos na cama apertada. Lembranças de domingo são constantes, repito, e podem ocorrer nos outros dias da semana, mas especialmente aos domingos é que vem à mente aquele cheiro acre de banheiro semi limpo, os alaridos e as patinhas da cadela arranhando o chão lamuriosamente, implorando para passear na rua.

  De domingos mais antigos eu gosto de lembrar quando íamos a praia, a família toda reunida, decidida a pelo menos por um dia fingir ser normal e aproveitar prazerosamente algum momento. Sentávamos a beira do mar e aí é cada um com sua diversão. A minha era fantasiar histórias, criar lugares, encenar situações (acho que toda criança faz isso). De mais nítido eu consigo lembrar de um bonequinho do Wolverine, que dentre os poucos brinquedos era o meu preferido. Eu sempre o levava comigo para todos os cantos, a praia é que ele não poderia faltar. Era o meu ator principal, o Samuel L. Jackson do Tarantulino. Apesar de todo carinho e de recordar perfeitamente de todas as suas cores, fisionomia, os bracinhos e as perninhas flexíveis, não sei qual fim que teve. Deve ter se perdido em alguma mudança, talvez mar adentro ou soterrado em algum castelo de areia. Simplesmente sumiu, feito a ilha de Krakatoa, puf! Sumiu e sobrou lembrança. Espero que tenha tido um final trágico e bonito, digno dos grandes papéis cinematográficos.

   Constantemente vamos nos renovando, adquirindo novos hábitos, revendo pensamentos, analisando de outras formas as mesmas situações. Tudo que um dia era novo e ardia intensamente tem um lugarzinho reservado na memória para de uma vez por todas se aquietar. Uns chamam isso de evolução ou em outras palavras envelhecer. Eu chamo isso de vida e não vejo nada mais que um processo normal que além de saudável é indispensável.

  Já fazem seis anos que eu tenho esse blog. É um bom tempo visto que as coisas que eu tento ter ou fazer nunca duram mais que três. Apesar disso, ele não significa nada e 99% do que nele está escrito é um imenso cagalhão boiando num mar esquisito. Escrever me reativa as memórias e eu parei pra pensar: Será a vida esse looping de recordações? Ou estou eu atormentado demais por fantasmas esquecidos? Wolverine ainda vive? e os baldes e as pazinhas de areia? Foram algum dia reais? E por existirem nas minhas lembranças ainda são reais? Ou deixam de ser? Quem, de certa forma, passou pela minha vida, Ainda existe? Existiu? Ou estão todos juntos a brincar com Wolverine e baldes e pazinhas numa tarde de domingo em alguma praia fictícia? Que nunca existiu.


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