sexta-feira, 16 de setembro de 2016


Corri decorando palavras na mente, frases, textos. Corri com tudo, dois postes, três árvores enfileiradas, Biu contando a velha piada sem graça e pedindo trocados na esquina. "Qual a cor do cavalo..." Paro, aperto sua mão e lhe coloco cinco reais no bolso da camisa. "Quem descobriu..." "Agora não Biu, preciso voltar!" Atravessei a rua rápido e com muito medo, confiante. Não comigo! Só preciso correr, as palavras fluem no braço forte do rio e não se prendem nas margens, Achei a felicidade? Me sentindo bem como há dias não me sentia.. Ah! Que cidade faceira! de grandes pegadas e estrondosos gritos que ainda ecoam em tuas casas de paredes antigas, nas ruelas cruzadas, nas pontes que te unem e que se imortalizaram na alma de grandes poetas. Abri o portão com extrema desenvoltura e ar magistral, o jarro verde na varanda estava quebrado e o lixo de dias seguidos empilhados. Não era o bastante para me encomodar. Não comigo!

 Corri pra mesa pulando cacos de vidro de alguma garrafa que um dia estilhaçou e virou ornamentação da sala. Arte moderna. Papel e caneta nos mesmos lugares de sempre, nunca tinha usado mas sempre achei que um dia ia escrever um livro. E o dia tinha chegado! Sim! Não uma história, um livro! Sentei, peguei a caneta e..... Escrevi bastante! Ou achou que, como prefere a maioria, as palavras iam fugir? Não de mim. Não comigo! Escrevi a madrugada inteira e era o sentimento de uma grande viagem, outra grande viagem! Longos dias e longas noites, a flor da pele, desejando tudo, apaixonado pela natureza e pelos homens.

 Acordei com um sentimento de ressaca, coisa que não sentia há dias, por falta de grana mesmo. Parecia que eu tinha tomado um porre daqueles, sabe? Boca seca, dor de barriga, esquecimento, vazio, tédio, encômodo, leve tendência a auto destruição. Entre levantar da cama e desvencilhar o lençol do corpo para dar uma mijada no banheiro levaram-se talvez duas horas de prostração contagiosa. Preguiça suficiente para interromper todas as guerras do mundo. Peguei aquele monte de papel, li e reli, achei tudo uma grande bosta e senti um pouco de vergonha. Como se, hipoteticamente, a pessoa que eu mais amo no mundo tivesse lido aquilo e achado que tais coisas só fossem capazes de serem escritas por algum pobre diabo desengonçado e sem a mínima da mínima da milésima mínima habilidade para fazer aquilo dar certo. Olhei pra pia e a louça suja beirava o teto. Meu estômago também olhou e roncou alto...


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